Very Important Person. Nossa sociedade é “vipocêntrica”. Nunca em nossa história essa entidade se fez tão presente e em evidência. Quem não quer ser VIP? Eu quero, minha avó quer… Ser admirado pela coletividade, receber espaço na mídia, ser ‘celebridade’.
O que é ser VIP? Realmente essa é uma questão difícil, é quem tem os bíceps mais torneados? O abdome mais sarado? Quem colocou mais silicone? Quem rebola com mais intensidade? Temo que sim. Nosso modelo social premia a futilidade, o aparecer por aparecer, nosso povo acha que isso é o objetivo, que esse é o fim. O objetivo do brasileiro parece que se tornou flutuar, etéreo, no big brother… Malhando, comendo, fazendo seus excrementos e participando de brincadeiras infantis. É aparecer na Caras, ostentar num país de miseráveis sua última roupa, seu último carro , sua última plástica, seu último divórcio milionário. Isso é intrigante, por que as pessoas se deslumbram com tanta besteira? Por que infernos esse monte de lixo vende tanto? Onde está a crítica? A relevância? A contribuição dessa parafernália toda?
Nossa realidade é amarga, nosso país é doente, com quarenta milhões de pessoas vivendo em situação de miséria, nosso sistema de saúde é vergonhoso, nossa educação não funciona. Note-se que essa é a regra, não a exceção, que felizmente temos algumas. Somos o país da Petrobrás, da embrapa, da infraero. Também somos o país do projeto genoma, da célula-tronco. O brasileiro é talentoso, é criativo, isso é inegável. Por que não damos espaço a quem realmente contribui? Por que a mídia é tão irresponsável e gananciosa?
Precisamos dar espaço a quem merece, rever urgentemente nossos valores, pensar em construir um mundo melhor. Onde as contribuições científicas, culturais sejam estimuladas e não suprimidas como o nosso país vem fazendo. Sonhar com uma sociedade educada, crítica, que vote certo, que rejeite lixos culturas da ordem do ratinho, das “celebridades”, Big Brother… Coitado do George Orwell, que usou o seu gênio para criar o Big Brother e agora sendo usado para dar nome a esse zoológico de idiotas.
Devemos introduzir em nossos vocabulários uma palavra rara no português brasileiro: responsabilidade social. Abandonar a visão imbecil de que nossos atos individuais não influenciam o todo. Refletir sobre as conseqüências de nossas ações, boas e más, do quanto podemos melhorar nossa existência no planeta. Nossa sobrevivência depende disso, se pararmos nosso comportamento autodestrutivo, nossa atitude inconseqüente, egoísta, fútil, de querer aparecer por aparecer, do quanto mais se tem mais se quer, alimentando as desigualdades, concentrando a renda, poluindo o ambiente.
Hoje o pensamento humano busca uma alternativa, busca abandonar as visões pequena, reducionista, individualista e alçar uma concepção diferente de vida, de mundo, entendendo que fazemos parte de algo grandioso, complexo, que nossas atitudes individuais influenciam o todo, toda a organização do planeta, toda a humanidade. Como dizia a personagem do Eça de Queiroz: “Como posso ser feliz se a Polônia sofre?”. Como posso ler a Caras com tanta gente passando fome? Como dançar o Tchan com gente sem médico nos hospitais? Queria muito que faltasse luz, o sol invadisse a sala e a TV, feita de espelho, refletisse o que a gente esquecia, que nem O Rappa canta, só que bem na hora do Big Brother ou da Celebridades.
Quem tá pensando que é VIP?!?
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